domingo, 20 de dezembro de 2009

Pra lembrar de Celebrar

Dezoito horas e nenhum convidado ainda tinha chegado.
dezoito e quinze, e vinte, e trinta.
"Vamos começar assim mesmo, fazemos um sarau pra gente."
É começávamos então um sarau sem os convidados, mesmo estando presentes apenas os conhecidos, uma certa timidez amarrava as pessoas às cadeiras!
Um levantou puxou do bolso um poema e pronto, fogo na palha e o sarau começou.

Aos poucos o espaço foi ficando com calor de gente, gente de todo canto e o susto de todo o trabalho ter sido em vão começou a passar.
Manifestação de indignação, de sonho e de tantos outros sentimentos.
Brado em prol da arte independente, da arte que não é comércio, que não é mercadoria.
E o sarau foi esquentando, o povo já transitava pelo quadradão de cimento sem timidez, mal um saía e outro assumia o microfone, poesia, música, discurso, tudo oque um sarau de gente que vive do nosso lado precisa ter. O violão ja tocava, de repente apareceu um atabaque pra acompanhar, depois os bumbos e logo a musica afro tinha tomado conta e, a coisa estava tão boa que o espaço dali já não era suficiente e o povo tomou a rua, gente nos portões de casa com sorriso no rosto admirada com a beleza do som e da dança contagiante. Um sarau inspirador me fez transformar um poema em discurso.

Pra lembrar de celebrar.

Celebrar é viver a utopia de um palhaço, rir a gargalhada inocente da criança, atirar-se do alto esperando flutuar no ultimo instante, rir do susto e repetir o desvario, é pintar a cara de branco e outras cores e caminhar inconseqüente na corda bamba e sentir no fundo um prazer na aflição da platéia que vai rir do seu tombo na cama elástica. Celebrar é doar a arte a quem tem sede de beleza, é construir uma revolução mais bonita, mais poética. E se alguém disser que é estupidez dar a arte “de graça” a alguém… Com licença este estúpido quer falar.
Que a partir desse encontro de hoje que constata a nossa existência sejamos todos palhaços bêbados na corda bamba em praça pública sem medo da queda, cambaleando, trançando assustadoramente as pernas nos deixemos cair na rede que nos espera logo a baixo, celebrar é falar sem vergonha o que nos der na telha, é divertir-se enquanto se constrói grandes coisas. Celebrar pra despertar a platéia que dispersa não vê que o mundo passa, acontece e se contra nós se levanta podemos com a doçura de uma pintura infantil fabricarmos a mudança necessária e nos desprendermos de qualquer cativeiro que ouse nos limitar. Sejamos sim palhaços embriagados e com a liberdade que temos por sermos os palhaços dessa vez, digamos tudo aquilo que incomoda, tudo aquilo que santifica tantos e tantos profanos…
Que ao acordarmos todos os dias ou noite pra quem assim se fizer necessário, nos lembremos de celebrar e que sobretudo não tenhamos medo ainda da contradição, da beleza que essa tem, da contradição que nos faz encontrar a verdade. Não é mesmo assim que nos encontramos várias vezes? E que assim, celebrando e descobrindo, as coisas fiquem nítidas e levemos tantas outras pessoas a descobertas também. A partir desse momento vamos colocar fogo no circo e quando a lona derreter vamos sorrir, chorar, deslumbrar-se com a beleza das estrelas e quando a platéia vir a nossa loucura, a nossa pressa em espalhar fogo pelo terreno ela perceba que é a revolta circense, dos trapezistas e engolidores de facas, do homem bala e da mulher barbada. Essa trupe não quer mais animar, agora quer ser animada.

“A paz, a ciência, a essência, a poesia prevalece.
Se lembrar de celebrar muito mais” (Fernando Anitelli)

“Não acomodar com o que incomoda” (Fernando Anitelli)

Euber Ferrari

euber.ferrari@hotmail.com

twitter: EuberFerrari

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