domingo, 29 de novembro de 2009

Ninguém controla nossa história

Tudo na calma, tudo sob controle. Tudo muito sob controle.
Pra que gritar, dessa vez vai ser sem berro, o grito vem na escrita e a bandeira vai na capa. Já era, ninguém controla mais nossa história nego.
A gente já começou a selecionar os textos que vão pra nossa primeira coletânea, o Fábio levou textos animais, o Anderson prometeu mandar mais textos iguais ao primeiro cheios de indignação, o Samuca confirmou a presença dos seus textos revoltados já conhecidos, o Edu reafirmou sua existência como poeta da revolução e eu também não fiquei de fora, vou colocar um conto e um poema meus.
Agora é lamentável doutor, tem mais gente do que vocês imaginam produzindo o que vocês controlaram durante tanto tempo.
Esses dias eu tava trocando idéia com um ator parceiro meu sobre essa situação de classes, de quem domina quem e quando isso vai acabar. Começamos falando de um pessoal que não tem essa dimensão de pensamento, de mudança social, de alienação através de pseudo-arte a etc.. Falando disso, falando daquilo a gente lembrou de uma treta que eu tive na sala de aula esses dias. Eu estudo teatro e tava no meio de uma aula de projeto e captação de recursos, a professora tava falando que não tem por que ter patrocínio se nãofor pra baratear o espetáculo e fazer arte popular, pra todo mundo, uma mina pegou e falou “é mas tem que ver até que preço vai ficar barato também né professora, por que se eu faço uma peça a dez reais que tipo de gente que vai? por que tem gente que assim (pensou pra falar, achou que não tinha perigo) você sabe né professora, vai uns pobres, vai só pra dar risada , gritar, tossir, aí é complicado né… Antes dela terminar eu interferi “Você ta falando então que só pobre é mal educado? Os burguês do seu condomínio não falam palavrão não? Eu sou morador de favela, tenho orgulho de ser e tô aqui. Pobre é sem educação? Pobre é sem educação mesmo, mas sabe por que? por que a gente não tem a educação que vocês negaram pra gente, vocês burgueses fizeram os pobres sem educação. Você não quer baratear espetáculo não é por causa da bagunça não, é por que vocês querem que os pobres não tenham cultura, por que o dia que nós tivermos cultura a gente vai mandar em vocês!” Ela ficou quieta, um pessoal falou pra eu deixar pra lá que não valia a pena, pra eu não falar mais e a aula continuou. Quando o meu amigo lembrou desse dia a gente começou a falar da revolução através da arte. Ele falou que a gente tinha que brigar por isso, pra arte ficar na mão de todo mundo. Aí eu falei que essa ordem social já tava no fim, a periferia ta acordando faz tempo e a ira dela ta pra explodir, por isso a gente tem que disseminar a arte por lá, por que se esse ódio não explodir artisticamente vai ser complicado. Mas a periferia ta mais lotada de arte que o mundo pode imaginar, tem vários poetas, atores, contistas, desenhistas, fotógrafos dentro das favelas, cheios de ideais e convicção de mudança, as coisas vão mudar e não demora.
O monstro cresceu, agora já era ninguém controla nossa história, a gente vai falar o que quiser e eles vão ouvir. Dessa vez vai ser sem berro, o grito vai estar na escrita e a bandeira vem na capa!

1 comentários:

Eduardo Kawamura 4 de dezembro de 2009 às 17:55  

Sem diplomas, contamos e entendemos nossa história.
Euber, e a Sociologia da quebrada.
É nóis.

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