sábado, 24 de outubro de 2009

Nada Comercial

Dia dez rola uma conversa sobre mercantilização da cultura e depois de tanta pensar em "sobre o que postar" resolvi arriscar clarear um pouco o tema só pra tentar fundamentar a discussão já que provavelmente não poderei estar presente.

Uma das minhas vertentes de fortes de debate é a indústria cultural, que é tema fundamental pra discussão do mercantilismo cultural.
A indústria cultural não é coisa do nosso tempo. Há séculos as instituições de poder já têm o costume de patrocinar certas "manifestações culturais" afim de inibir outras que não lhes interesse ou que lhes ofereça perigo. Assim foi com o simbolismo afim de inibir a ascensão do realismo e assim é com o funk carioca por exemplo afim de dissolver tantas outras manifestações musicais questionadoras, principalmente as de periferia.
Após essa introdução vamos a discussão de tal indústria
Neste campo há uma grande posição a ser destacada. Não chega a constituir-se em uma corrente propriamente dita, embora esteja constantemente fornecendo elementos para a análise da industria cultural.
esta posição é a que deriva de uma das lições fundamentais de Karl Marx: todo produto traz em si os vestígios, as marcas do sistema produtor que o fabricou. Estes traços estão no produto, mas geralmente permanecem "invisíveis". Tornam-se visíveis quando o produto é submetido a uma certa análise, a que parte do conceito segundo o qual a natureza de um produto somente é compreensível quando relacionada com as regras sociais que deram origem a esse produto.
A partir desse ponto de vista, e considerando primeiro, que a indústria cultural tem seu berço propriamente dito apenas a partir do século XIX, de capitalismo dito liberal, e, segundo, quea indústria cultural atinge seu grande momento com o capitalismo de organização ou monopolista (gerador da sociedade de consumo), ficaria claro que a indústria cultural e todos os seus veículos, independentemente do conteúdo das mensagens divulgadas , trazem em si, gravados a fogo, todos os traços dessa ideologia, da ideologia do capitalismo. E, neste caso, também trariam em si tudo aquilo que caracteriza esse sistema, particularmente os traços da reificação e da alienação.
Isto significa que, se levarmos esta análise às ultimas consequências, façam o que fizerem, os veículos dessa indústria cultural só podem produzir alienação. Mesmo que o conteúdo de suas mensagens possa ser considerado como libertário. É que a força da estrutura natural, das condições originais da criação da indústri cultural é mais forte que a força das mensagens que seus veículos possam transmitir, e que se vêem anuladas ou extremamente diminuídas pelo poder da estrutura. Se preferir: A natureza da industria cultural, considerando o sistema que a gerou, aparece como dominante ou como resultante de um sistema de forças.
Nesse sistema podem estar presentes forças contrárias à caracterizadora da natureza do veículo da indústria cultural, mas estas acabam ficando em segundo lugar.O enfoque desta análise é simples e ao mesmo tempo rígido: se o sistema onde surge um determinado produto aparece baseado na alienação, esse produto só pode apresentar essa mesma característica. E não seria pensável a hipótese de uma outra utilização desses veículos no caso de uma mudança de sistema social. Passando-se por exemplo de uma sociedade capitalista para outra socialista, os meios de comunicação anteriormente existentes não poderiam ser postos a serviço da nova ideologia, uma vez que estariam impregnados da ideologia que os gerou e a insistência no uso desses meios poderia (ou com certeza faria) até mesmo colaborar para um movimento de retrocesso na direção do sistema que se desejou superar.
Apesar de radical, esta análise não está pautada exatamente em bases equivocadas, encaixada como está no quadro maior relativo à produção da ideologia, à sua infiltração profunda em todos os setores da vida por ela coberta e aos modos pelos quais pode ser combatida. O problema é que, nesse caso, o único modo de eliminar uma certa ideologia e seus efeitos, seria a destruição de tudo aquilo que estivesse afetado por ela, solução bem pouco prática e, mais ainda, pouco viável. Parece imperioso admitir a hipótese de um gradualismo nessa passagem de uma para outra ideologia. Caso contrário, se chegaria a conclusão de que, por exemplo, o meio por ecxelência de comunicação de massa, a 'TV', não poderia de jeito nenhum ser utilizada revolucionáriamente (quando digo TV, não me refiro ao objeto televisor, mas sim ao produto cultural TV já que não importa que se muda a mensagem de tal produto, se este continuar sendo feito pelas mesmas máquinas nada mudará). Fica claro q nenhuma sociedade existente , e que queira dar início a um processo de grandes e profundas alterações sociais, pode se dar o luxo de dispensar um meio como a TV e os produtos culturais por ela gerados. De todo modo, não podemos esquecer que , de fato, todo produto traz em si os germes do sistema que o gerou; dimiunuir pode gerar graves danos para uma sociedade em processo de transformação.
Eu queria aqui demonstrar que grande parte (senão todos) de conceitos e práticas ideológicas de uma sociedade e compactada e embutida em todos os produtos dessa sociedade. Uma ideologia cujos traços são, entre outros o paternalismo, a necessidade de tornar passivos todos os sujeitos, a transformação em coisa (reificação) de tudo o que possa existir (inclusive o homem) - Traços esses presentes no capitalismo de organização- estaria assim presente num produto como a TV, como de fato está. Efetivamente todos aqueles traços são, simultâneamente, traços caracterizadores desse ramo da indústria cultural que é a TV. Esquecer isso, e tentar manipular a TV como se bastasse alterar seu conteúdo, pode dar origem a entidades isoladas, impermeáveis ou híbridas, como por exemplo um "socialismo" baseado no autoritarismo, no paternalismo, na passividade dos que se poem de baixo de suas asas, isto é, um socialismo baseado na alienação. O que já é uma realidade.
Disso vem o príncipio de mercantilização da cultura. O que é e o que não é comercial? Sendo interesse inibir questionamentos apenas cultura massificadora é comercial. De resto tudo o que for questionador é mais caro de produzir e só serve a partir do momento que pode ser transformado em moeda de troca.
É isso aí, fica aí essa breve contribuição.
Um salve pro pessoal do espaço.
E quero deixar registrado que o encontro de hoje foi responsa, contamos com a presença de Mário Barba falando de suas amargas experiências no período da ditadura militar.
Responsa mesmo, que foi sabe do que eu estou falando.
Abraços vou nessa!

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