Mil anos que eu não apareço por aqui, to ligado que hoje nem era meu dia de escrever mas ta firmão eu escrevo hoje e amanhã também pra recuperar o tempo que eu perdi por causa do apagão que apagou meu pc, e das mil ocupações que eu tenho agora. Vishe, meu pc zuou mano, perdi vários baratos, até uns tecos do meu livro foram pro saco, vou ter que escrever tudo de novo, mas ta firmão, ta firmão o Estado já me lesou várias vezes uma a mais a gente suporta até chegar a nossa hora, eu escrevo de novo e salvo em algum lugar pra não perder de novo, se fosse na época que eu tava escrevendo no caderno nem tinha acontecido isso aí.
Mas nem foi disso que eu vim falar, eu vim falar do meu dia 20 de novembro mesmo. Hoje eu trampei só das 9:00 às 20:00h. pouco né?
Feriadão, rolou vários shows de Rap em São Paulo eu tava até afim de colar em uns, mas nem virou.
Dia da consciência negra nem pude ta presente nos atos a pans da um apoio, um salve pros mano.
Cheguei em casa e meti um rap no som pra simular os dos shows que eu perdi e to aqui sentadão na frente do pc dando um enrolada até achar um jeito de escrever o dia como que foi.
Mano é complicado falar de preto ou branco, sem parecer plagiador, cheio de demagogia ou falsa consciência, mas vamo lá que o barato é o seguinte a reflexão do dia vinte vem do dia anterior.
Ontem eu vi um mano, mil anos que eu não trombava, colava pouco com ele mas a gente tinha uma amizade forte, era um mano admirável, estudava pra caralho, dava um trampo pra ajudar a mãe, tinha futuro o moleque. Colou em mim me pedindo uma moeda, "Qualquer coisa serve, só pra eu interar o busão e voltar pra casa!" Ele não me reconheceu, mas eu me liguei ele mora a uns dois quarteirões dali "Tem não irmão, to quebrado". Mal vestido, o chinelo saindo do pé, no friozão da madrugada de bermuda e camiseta. É mais um negro que o sistema apagou a consciência, o mano que era uma ameaça pro sistema pela capacidade que tinha, agora transita por aí pedindo uma moeda, um qualquer, pra cheirar um pino, queimar uma pedra sei lá, de repente se não arrumar nada na crise pode até matar alguém em troca de uns minutos de viagem.
É o barato é louco fiquei com essa cena na mente, vishe o mano até curtia uma poesia, várias vezes veio em casa pedir livro emprestado pra fazer trabalho de escola e ontem o que ele me pediu nem tem nada a ver com isso.
Firmeza pra fazer um H os caras correram lá e transformaram o dia da consciência negra em feriado, mas e aí?
Os pobres tão aí largado no mundão se nós não fizermos por nós ninguém faz.
Essa é a real ninguém faz nem vai fazer, ninguém quer fazer nada.
O mundão é assim durão e frio de jeito que é, mais um parceiro que eu perdi pras drogas, mais um pobre que entra para as estatísticas que ninguém faz nada pra mudar.
Eu vim só pra relatar e por um carrapato atrás da orelha do leitor.
E pra deixar um salve pra massa negra do meu país e do meu planeta, pra todos que têm a coragem de dizer, pra todos aqueles que fazem desse feriado uma oportunidade de revirar essa lógica do sistema corrosivo que mastiga a liberdade e a soberania da nossa gente, do nosso povo, um salve pro povo da favela, Marabá vai ta no coração pra sempre, a favela fez eu ser quem eu sou. Um salve pros negros que cresceram comigo e me fizeram não ser só mais um branquinho filho da puta, de nariz e topete empinado: Cipó, Cássia, Rubão, Negão, Márcio, André, Jhonny, Marta, Bebê, Enrique (Preto), Dô, Sangue, Acum, Michel, Deyse, Jhully, Gabriela, Paca, Banha, Tripão, Huoslon, Ana, Cidinha (In Memorian), Jeremias (O Gê), Pedrão (In Memorian), Miriam, Moisés, Matheus, Josi, Tio Basto (In Memorian), Ricardinho, Abel, Keilinha, Ana Cláudia, Miriam (prima), Maicon e vários outros que talvez eu não tenha citado mas não foram esquecidos, Feliz final de dia da consciência de vocês, vocês mais do que eu sabem o que é ser preto e favelado por aqui, valeu por tudo que a gente compartilhou e compartilha até hoje.
Salve!
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